CRIADO PARA A SUA EDIFICAÇÃO

Sejam bem vindos! Aqui a verdade é exposta sem maquiagem. A Bíblia é a autoridade para falar de Deus e da Sua relação com as suas criaturas.

"Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna" (Atos 13.48)

Confissão de Fé

Creio que a justificação e a salvação do homem têm como causa meritória a justiça de Cristo e o seu sacrifício perfeito. A salvação dos seres humanos caídos é pela graça de Deus somente, tem como instrumento somente a fé, tem como fim somente a glória de Deus, tendo como a única fonte da verdade e a única autoridade, em relação a esse assunto, somente as Escrituras, Antigo e Novo Testamentos, num total de 66 livros.

Creio que os “cinco Solas” são a verdade bíblica:

“Sola Scriptura”. Somente as Escrituras!
“Solus Christus”. Somente Cristo!
“Sola Gratia”. Somente a graça!
“Sola Fide”. Somente a fé!
“Soli Deo Gloria”. Somente a glória de Deus!

Creio que a salvação é, do começo ao fim, uma obra de Deus (monergismo) e que o homem nada pode fazer para cooperar com Deus para a sua própria salvação. Essa visão está claramente exposta nos chamados “cinco pontos do calvinismo”:

  • Depravação total – A queda de Adão afetou a totalidade da pessoa do homem.
  • Eleição incondicional – A eleição é baseada exclusivamente na vontade de Deus e não na presciência de fé ou obras.
  • Expiação limitada – A redenção foi obtida por Cristo para os eleitos.
  • Graça irresistível – A regeneração pelo Espírito Santo é eficaz para os eleitos.
  • Perseverança de Deus junto aos Santos – Deus vai, pela graça, completar o que Ele começou na regeneração.

Creio que a Bíblia toda, Antigo e Novo Testamentos, constitui uma unidade, que a pessoa de Jesus Cristo, Sua obra e Seu reino, constituem o tema central da Bíblia e que Jesus Cristo é o único meio de salvação em todos os tempos, tanto antes como depois da Sua primeira vinda, e, portanto, somente Ele salvou todos os eleitos em todas as eras.

Creio que a Bíblia toda tenha sido inspirada por Deus, sendo assim infalível, e que constitui a única autoridade no que se refere à genuína religião, e que Ele nos deu como diretriz com relação à fé e à conduta em todas as áreas da nossa vida.


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PANORAMA DO EVANGELHO DE MARCOS


O Evangelho de Marcos

Estudo Introdutório no Evangelho de Marcos

Autoria

O Evangelho de Marcos é um livro anônimo. Em lugar algum do livro encontramos referência ao nome do seu autor. Contudo, podemos chegar a algumas conclusões através de evidências externas e internas acerca de sua autoria.

1. Evidência Externa

A evidência externa é aquela que não se encontra no corpo do texto original. Analisemos se é possível encontrar a partir de testemunhos externos, indicações de sua autoria. Para isso observaremos primeiro a ocorrência e uso do título do livro, e em seguida o testemunho dos Pais da Igreja.

1.1. O título do livro

Naquele período da história literária cristã não era costume entre os escritores pôr o seu nome como título do livro . Adolf Pohl comenta que “uma referência autoral como título soava tão estranha naquela época como hoje em dia”. Era mais comum haver uma indicação do autor no cabeçalho do livro, ou no seu desfecho.

Ainda podemos afirmar que o autor deste Evangelho não colocou seu nome em sua obra, porque ele era bem conhecido pelos seus leitores. Se levarmos em conta a tradição da Igreja, então, o Evangelho de Marcos foi um livro “encomendado”, logo, não haveria a necessidade de autografá-lo. E mesmo que não fosse um livro encomendado, a hipótese de que o autor era conhecido dos seus leitores não pode ser descartada como uma opção válida.

Somente os Evangelhos apócrifos possuíam a praxe de colocar nome de personagens famosos como título em seus livros. Assim, por exemplo, o “Evangelho de Pedro”, do século II, identifica-se ao dizer: “Eu, porém, Simão Pedro...”. Os escritores dos Evangelhos canônicos não tinham necessidade de estampar os próprios nomes em seus livros, pois, eles queriam destacar o seu conteúdo, e tinham consciência de que o real autor destes livros era em sentido específico, o Senhor (Hb 2:3; 1 Pe 1:12).

O título tem como propósito apresentar o conteúdo, e não o autor (Mc 1:1). E mesmo que o título fosse usado para apresentar o autor, seria desnecessário, no caso deste Evangelho, pois, o seu autor era conhecido por seus leitores.

Embora o título grego que acompanha o livro não esteja originalmente no texto grego, ele se encontra em todas as listas canônicas, e nas cópias de manuscritos antigos. Quanto a identificação do livro que era feita entre os copistas da época, Adolf Pohl esclarece que

esta informação era fixada com um bilhete na haste de madeira do rolo, o que era prático para quem procurava determinado rolo em uma caixa de madeira ou barro. Mais tarde, quando a Bíblia passou a ser transmitida em forma de códice, este título curto também pôde ser colocado na margem superior de cada folha, para facilitar a procura de passagens.

Por isso, podemos encontrar no Códice do Vaticano (B) e no Códice Sinaítico ()), ambos datados no século IV, possuindo um título mais curto “Segundo Marcos”. Contudo, nas páginas de capa das cópias, os títulos costumavam ser ampliados, resultando “Evangelho Segundo Marcos”.

Podemos concluir que, estes títulos embora não pertençam a forma original do Evangelho, foram acrescentados por causa do cuidado de copistas cristãos num período posterior. Todavia, a sua autoria já era um assunto pacífico entre os cristãos num período bem anterior. É possível verificar que esse assunto era algo pacífico na Igreja Cristã em seus primeiros séculos analisando algumas afirmações dos Pais da Igreja.

1.2. Os Pais da Igreja

A autoria de Marcos é sustentada pelos Pais da Igreja a partir do início do século II. Uma importante constatação pode ser feita na História Eclesiástica escrita em 325 , por Eusébio de Cesaréia (260-339), onde ele cita Pápias de Hierápolis (70-140 d.C.) que escreveu uma obra intitulada “Exposição das Palavras do Senhor”, essa obra perdeu-se, mas foram preservados alguns fragmentos por Eusébio em sua História Eclesiástica. Eusébio de Cesaréia afirma que

Por outro lado, cremos necessário acrescentar, ao que já dissemos sobre Pápias, a tradição que expõe a respeito de Marcos, que escreveu o Evangelho, dizendo assim: “O presbítero dizia também o seguinte: Marcos, que foi o intérprete de Pedro, escreveu fielmente, embora desordenadamente, tudo o que recordava sobre as palavras e as ações do Senhor. De fato, ele não tinha ouvido o Senhor, nem o havia seguido. Mais tarde, como já disse, ele seguiu a Pedro, que lhe dava instruções conforme as necessidades, mas não como quem compõe um relato ordenado das sentenças do Senhor. Assim, Marcos em nada errou, escrevendo algumas daquelas coisas da forma como as recordava. Com efeito, sua preocupação era uma só: não omitir nada do que tinha ouvido, nem falsificar nada do que transmitia.” Esse é o relato de Pápias a respeito de Marcos.

Se considerarmos Pápias como uma testemunha digna de confiança, então podemos afirmar que a identificação de Marcos como autor do Evangelho remonta à primeira geração de cristãos.

Irineu de Lião confirmando esta autoria declara que “quando Pedro e Paulo evangelizavam em Roma e aí fundavam a Igreja. Depois da morte deles, também Marcos, o discípulo e intérprete de Pedro, nos transmitiu por escrito o que Pedro anunciava.” Noutro lugar de sua obra, este autor continua indicando a autoria do Evangelho da seguinte forma: “por isso, Marcos, companheiro e intérprete de Pedro, inicia assim a redação do Evangelho”.

Tertuliano (193-216 d.C.) em seu tratado Contra Márcion IV.5, fala que “o Evangelho que Marcos publicou pode afirmar-se ser de Pedro de quem Marcos foi intérprete”.

Clemente de Alexandria em sua obra intitulada Hypotyposeis (cerca de 190-200 d.C.) coloca o assunto da seguinte maneira

Uma vez que Pedro pregou a palavra publicamente em Roma e anunciado o evangelho pelo Espírito, aos presentes, que eram muitos; estes suplicaram a Marcos, que durante muito tempo o havia seguido e recordava o que (Pedro) havia ensinado, para que registrasse suas palavras. Marcos fez o que lhe foi pedido, e comunicou o evangelho aqueles que lhe haviam solicitado. Quando Pedro o soube, não o impediu ativamente este empenho, nem o incentivou.

Orígenes que viveu cerca de 210-250 d.C., também é citado por Eusébio (HE, VI, xiv.6,7), como segue

Em segundo lugar, o [Evangelho] segundo Marcos, quem o escreveu de acordo com as instruções de Pedro, e também a quem Pedro em sua epístola geral lhe reconhece como a seu filho, dizendo “aquela que está na Babilônia, também eleita, envia-lhes saudações, e também Marcos, meu filho”(1Pe 5:13).

Alguns estudiosos rejeitam estes testemunhos por considerá-los procedentes de fonte secundária. Werner G. Kümmel, por exemplo, afirma que

Com efeito, Papias é a única testemunha independente, pois os demais relatos a respeito de Marcos, como as ‘Memórias de Pedro’(Just., Dial., 106,3) e das circunstâncias que teriam levado Marcos a escrever a pregação de Pedro, dependem todos de Pápias, não tendo pois o menor valor como testemunha independente.

Kümmel para reforçar o seu argumento chega a ponto de afirmar que Pápias inventou o relacionamento entre Marcos e o apóstolo Pedro, para defender a origem do evangelho. Contudo, podemos objetar esta tese de Kümmel, pois “não parece que Pápias esteja defendendo a autoria de Marcos, ou o seu relacionamento com Pedro, mas apenas a do evangelho em face da acusação de que lhe faltava ‘ordem’”.

Logo, a tese de Kümmel não possui fundamentação. A preocupação central de Pápias era de defender o conteúdo, a autoria atribuída a Marcos é somente uma inferência que ele faz, pois o que estava sendo afirmado por Pápias parece ser o fato de que Marcos teria anotado tudo com exatidão, que nada havia sido omitido, mas que lhe faltava certa ordem.

Quanto à confiabilidade do valor histórico de Pápias, podemos concluir positivamente. Os Pais da Igreja cometeram muitos erros, e entre eles existem discordâncias acerca de vários temas da fé cristã. Contudo, devemos agir com sobriedade, e não negar a importância histórica do testemunho que os Pais da Igreja nos oferecem. Precisamos avaliar as suas afirmações e colocá-las ao crivo das Escrituras caso forem doutrinárias. A questão discutida aqui não é doutrinária, e sim o valor histórico do testemunho destes homens, e em especial de Pápias. Analisemos então com senso crítico o valor histórico, a partir de quatro considerações que pesam a favor da confiabilidade da declaração feita por Pápias.

Primeiro, devemos considerar a idade antiga do testemunho. Pápias nasceu próximo ao ano 70 d.C., isso quer dizer que por volta do ano 100 d.C., Marcos já era considerado como seu autor, uns 30 anos depois de escrever. Adolf Pohl sugere que “uma lenda não poderia surgir em tão pouco tempo. O surgimento de um livro como este no seio da igreja era um acontecimento vivo, mal passada metade da vida de uma pessoa.”

A segunda consideração que precisamos analisar se refere à ausência do título. A tendência de atribuir evangelhos, ensinos, ditos, etc., aos apóstolos é comprovada nos séculos II e III. É de se questionar, por que alguém aparentemente inexpressivo no seio da Igreja Cristã não colocou o título do seu livro como “Evangelho de Pedro”? Podemos responder esta pergunta da seguinte forma: simplesmente porque a sua autoria já era um assunto de comum acordo, e atribui-lo a um outro autor seria uma inverdade.

Uma terceira consideração se refere ao propósito da indicação autoral feita por Pápias. Pápias declara claramente que Marcos foi o autor do Evangelho. Ele não estava preocupado em defender a autoria, e sim o conteúdo do Evangelho. É inquietante pensar que para autenticar este Evangelho não seria um argumento superior afirmar que o próprio apóstolo Pedro era o escritor do Evangelho, em vez de Marcos? Pohl explica que “parece que os fatos históricos se impuseram aos desejos e tendências. Por isso a consciência histórica não se livra tão facilmente da observação de Pápias.”

Uma última consideração é a respeito da uniformidade de testemunhos. Mesmo que Pápias fosse o único que tivesse afirmado que Marcos é o autor deste Evangelho, teríamos ainda a favor desta tese o fato de que nenhuma voz dissidente durante o período da Patrística se levantou, para apontar outro autor. Então, “isso é surpreendente, pois a tendência na igreja primitiva era associar apóstolos à redação dos livros do Novo Testamento.”

Hendriksen de forma muito didática organiza seu argumento a partir dos pontos geográficos, demonstrando como a tradição afirmou a uma só voz a autoria do segundo Evangelho como pertencendo a Marcos. Ele coloca assim

a evidência se estende através de vários séculos, desde Eusébio até Pápias. Vem de todas as regiões. Da Ásia, África e Europa; ou seja, desde o leste (Pápias de Hierápolis, Eusébio de Cesaréia); do sul (Clemente de Alexandria, Tertuliano de Cártago); e do oeste (Justino, o Mártir e o autor do Fragmento de Muratori de Roma). Às vezes, há duas regiões representadas por uma só testemunha: o leste e oeste (Irineu da Ásia Menor, Roma e Lião); o sul e o leste (Orígenes de Alexandria e Cesaréia). Ortodoxo e heterodoxo, textos gregos antigos e versões remotas acrescentam seu peso a mesma conclusão.

Adolf Pohl resume bem ao afirmar que “este é o cerne da tradição: sem questionamento de amigos e inimigos ficaram pelos séculos estes três fatos: a autoria de João Marcos, sua ligação com Pedro e a ligação do Evangelho com Roma.”

2. Evidência Interna

Por evidência interna são aquelas evidências que podem ser encontradas dentro do próprio livro, e que indicam a sua autoria. Esta classe de evidência exige que voltemos nossos olhos para o texto, sobretudo, ao texto grego. Precisamos ler e reler o livro várias vezes, e ainda se possível compará-lo com os outros evangelhos. Somente a partir daí poderemos chegar a algumas conclusões, analisando a possibilidade do autor ter deixado indícios de si mesmo impressos no texto.

É fato que o livro não traz consigo um título original indicando a sua autoria, nem ao menos há uma menção objetiva do autor dentro do Evangelho. Contudo, podemos nos perguntar, se o autor não deixou impresso no texto o que poderíamos identificar como sendo as suas “impressões digitais”?

O autor deste Evangelho, de fato deixou suas marca pessoal, demonstrando que ele possuía um estilo literário próprio. Este estilo pessoal, não é contrário à doutrina da inspiração orgânica-verbal, mas é uma expressão dela; pois, como bem disse Stott se referindo a inspiração dos escritores do NT, “o Espírito Santo primeiro preparou, e em seguida usou sua individualidade de formação, experiência, temperamento e personalidade, a fim de transmitir por meio de cada um alguma verdade distintiva e apropriada”. Para que o assunto possua uma estrutura mais clara estarei expondo as características desse estilo literário.

2.1. Características de Linguagem

Este Evangelho é o que possuí mais expressões aramaicas. Embora seja um “Evangelho aos gentios”, conforme veremos no tópico sobre “destinatário”, esta obra se caracteriza pelo uso de várias expressões aramaicas, e algumas delas só ocorrem neste livro. Marcos foi discípulo de Pedro (1 Pe 5:13), certamente que Pedro falava aramaico, e algumas dessas expressões são demasiadamente próprias em seu uso, para que Marcos as julgasse traduzíveis, ou adaptáveis à nomenclatura helênica daquela época, como por exemplo “Abiatar” (2:36), “Iduméia” (3:8), “Boanerges” (3:17), “Talitá cumi” (5:41), “Corban” (7:11), “siro-fenícia” (7:26), “Efatá” (7:34), “Dalmanuta” (8:10), “Bartimeu” e “Timeu” (10:46), “Abbá” (14:36).

Este Evangelho é rico em latinismos. Esta evidência confirma e em muito a tradição de que Marcos escreveu seu Evangelho em Roma, e para os cristãos romanos. Encontramos um número expressivo de latinismos, palavras como centurio (15:39), quadrans (12:42), flagellare (15:15), speculator (6:27), census (12:14), sextarius (7:4), praetorium (15:15), legion (5:9).

Este Evangelho é conhecido por possuir um grego “torto”. O estudioso do NT Dr. Robertson identifica o grego de Marcos como sendo “um modo mui distintivo do vernáculo Koiné, como “torto” (monophthalmon, 9:27), como seria de se esperar tanto em Pedro como em Marcos”. Isto significa que embora o autor escrevesse em grego, ele pensava como um judeu. Adolf Pohl afirma que “ele deve ter sido um grego-palestino: falava e escrevia em grego, mas tinha suas raízes na Palestina e no idioma aramaico.” Isso explica o motivo do seu grego ser menos elaborado, com a construção de orações simples. Mas a sua simplicidade lingüística não deve “levar o intérprete a deduzir simplicidade nos padrões de pensamentos”.

Além destas características na linguagem do Evangelho de Marcos soma-se o conhecimento de nomes aramaicos, latinos e gregos de personagens secundários, que somente são citados por ele, por exemplo: Levi e Alfeu (2:14), Boanerges (3:17), Jairo (5:22), Batimeu (10:46), Simão (14:3), Salomé (15:40; 16:1), Alexandre e Rufo (15:21). Isto demonstra um conhecimento mais do que particular dos acontecimentos, demonstra também um conhecimento dos personagens que participaram dos fatos.

Essas “impressões digitais” constadas, ainda não nos revelam o seu autor, pelo menos não de forma objetiva e direta. Mas essas características indicam que o autor era alguém que possuía uma excelente noção dos acontecimentos por ele narrado, e que em muitos casos ele era de fato, uma testemunha ocular. A sua capacidade de resumo, e riqueza em detalhes, e ainda a unidade temática do livro, bem como o seu estilo redacional demonstram que ele sabia o que queria escrever.

2.2. Possíveis indicações do autor

Esse subtítulo expressa melhor o assunto que será exposto aqui, pois os textos que serão analisados nesta seção não “provam” definitivamente o assunto sobre a autoria, mas são contribuições importantes que lançam luz sobre a questão.

Podemos encontrar a narrativa de três passagens contendo detalhes que pertencem ao acervo específico do Evangelho de Marcos. Alguns dos estudiosos têm encontrado nestas passagens evidências como se o autor sem querer se identificar de forma objetiva dissesse: “olha esse aqui sou eu”!

A primeira passagem é 10:17, que relata sobre “um homem correu em sua direção” e, “Jesus olhou para ele e o amou” (Mc 14:21 NVI). Não temos aqui o nome deste homem que vai ao encontro de Jesus, mas a forma como Jesus o olhou “com carinho”; nem Mateus (19:16-30), nem Lucas (18:18-30), mas somente Marcos poderia saber o modo deste olhar.

Em 14:13-16 encontramos a descrição de “um homem carregando um pote de água virá ao encontro de vocês” (NVI). Aparentemente este homem sabia de tudo, pois ele já esperava pelos dois discípulos, e sem perguntas os conduz pelo caminho e os leva até uma determinada casa. Novamente, Marcos usa o recurso de apresentar um personagem sem identificá-lo, apenas indica que morava em Jerusalém, mas que certamente era um outro discípulo, pois Jesus sabia de sua disponibilidade para preparar a última ceia. Podemos deduzir que este poderia ser Marcos, pois a casa de sua mãe, algum tempo depois do Pentecostes viria a se tornar um ponto de referência para os cristãos em Jerusalém (At 12:12), e que lugar poderia ser mais sugestivo, senão a casa onde ocorreu a última ceia?

A narrativa de “um jovem” que foge desnudo (Mc 14:51-52). Este episódio em si é desprovido de relevância, a não ser que fosse importante para o autor do Evangelho. O autor nos fornece aqui alguns detalhes significantes, Stott comenta que “o jovem que seguiu Jesus era claramente rico, porque usava um lençol ‘de linho’: geralmente, tais peças eram de algodão. O terror do jovem é realçado tanto por fugir desnudo como por sua disposição de desfazer-se de uma vestimenta tão valiosa.”

2.3. O autor

Até aqui temos considerado, pelas evidências, que o autor do segundo Evangelho era denominado como Marcos. Os estudiosos o identificam com João Marcos de Jerusalém, por ser o único “Marcos” que os escritores do NT mencionam.

Lucas e Paulo em seus escritos nos fornecem algumas informações acerca de João Marcos. Na residência de sua mãe, que se chamava Maria, se reuniam os cristãos da igreja de Jerusalém (At 12:12). Ele era primo de Barnabé (Cl 4:10). Participou da primeira viagem missionária com Paulo e Barnabé, contudo não foi bem sucedido, e regressou para Jerusalém (At 13:13), por motivos que desconhecemos (At 12:35; 13:5); Paulo por causa dessa desistência, não quis levá-lo na viagem seguinte, Barnabé não concordando, rompeu com Paulo, e continuaram os seus esforços missionários separados um do outro (At 15:37-41). Contudo, posteriormente Paulo menciona Marcos como seu colaborador (Fm 24; Cl 4:10) e como lhe sendo útil para o ministério (2 Tm 4:11).

Podemos concluir historicamente que, após a morte de Paulo, Marcos passou a trabalhar com Pedro. Quanto ao seu relacionamento com o apóstolo, além das informações que recebemos por parte dos Pais da Igreja, só possuímos uma referência do próprio apóstolo ao mencioná-lo carinhosamente como “Marcos, meu filho” (1 Pe 5:13, NVI). Era comum entre os judeus, especificamente entre os rabinos chamar os seus discípulos de filhos, como também os discípulos se dirigirem aos seus mestres, como “pai”.

Este Evangelho possui similaridades com os sermões de Pedro. Ainda analisando o estilo literário, podemos observar que o Evangelho de Marcos “segue os eventos históricos sobre a vida de Jesus que aparecem nos sermões de Pedro em Atos 3:13-14 e 10:37-42”. Como já observamos, o nome de Marcos está intimamente ligado ao de Pedro, logo, não nos surpreende que ambos tenham discursos similares.

Além das similaridades com os sermões de Pedro, possuímos outras evidências de uma possível influência do apóstolo. C.E. Graham Swift coloca o assunto assim

o evangelho começa com a chamada de Pedro, sem referência alguma à natividade de Cristo. O evangelho focaliza o ministério na Galiléia, e mais especialmente nos arredores de Cafarnaum, cidade de Pedro. (...) São omitidas alguns pormenores que destacam a pessoa de Pedro, em a narrativa da confissão de Pedro, em Cesaréia de Filipe, e do seu andar sobre o mar. São relatadas minunciosamente as suas derrotas, como a negação do mestre.

Em resumo, podemos dizer que Deus soberanamente preparou aquele que haveria de escrever o Evangelho. Augustus Nicodemus sugere “Marcos certamente conheceu a Jesus em Jerusalém, andou com os principais líderes apostólicos, e deles ouviu muitas outras coisas”.

Conteúdo do Evangelho

Este livro não é uma biografia. Marcos tencionou apresentar a vida do mestre de forma bem resumida, enfatizando a sua mensagem. Não pode ser considerada uma biografia no sentido moderno da palavra. Larry W. Hurtado declara que “a motivação forte conducente à redação dos evangelhos não partiu de interesses biográficos, pelo menos como os entendemos hoje, mas nasceu do desejo de incrementar a fé em Jesus, e a ela dar forma”.

Vejamos algumas razões porque esse Evangelho não pode ser considerado uma biografia. O Evangelho de Marcos não faz uma descrição física de Cristo. Não é fornecido nenhum detalhe a respeito da altura, peso, cor, enfim, nenhuma característica física de Cristo foi comentada.

O segundo Evangelho não contém a narrativa do nascimento e infância de Jesus. Não encontramos neste Evangelho como vemos em Mateus e Lucas a genealogia, a narrativa do nascimento, nem mesmo algumas pinceladas da infância do Senhor. Podemos observar que a começar pelo título há uma ênfase na mensagem do Senhor, sem necessariamente anular o seu apregoador.

Mesmo a narrativa que encontramos do ministério de Cristo não é exaustiva. O autor nos fornece o início ministerial de Cristo dizendo que “ele percorreu toda a Galiléia, pregando nas sinagogas” (Mc 1:21; 1:39, NVI). Neste dado já possuímos um salto histórico enorme, pois o narrador omite todos os detalhes e seqüências de sua mensagem como também, desta trajetória de Cristo em seu ministério inicial. Pohl corretamente diz que

é evidente que Marcos não tinha a intenção de dar o mesmo peso aos diversos aspectos da vida de Jesus. Seu interesse primordial era sua morte, porque ali ficou demonstrado definitivamente – sem contestação por toda a eternidade – quem é Jesus e como é Deus.

Jesus iniciou o seu ministério na região da Galiléia. Sabemos que a região da Galiléia abrangia uma vasta porção de terra, com muitas cidades e vilas. Flávio Josefo afirma que “não somente há uma grande quantidade de aldeias e vilas, mas também um grande número de cidades (não menos que 240), tão populosas que a menor delas tem mais de quinze mil habitantes”. Contudo, acerca deste número populacional tão volumoso Alfred Edersheim afirma que “naturalmente deve ser um grande exagero, pois haveria de existir naquele país uma população duas vezes mais densa que os mais densos distritos da Inglaterra, ou Bélgica.” Apesar do exagero de Josefo, podemos crer que de fato a região da Galiléia era populosa. Apenas nesta afirmação tão resumida de todo o ministério de Jesus na Galiléia, podemos concluir que o Evangelho de Marcos não é uma narrativa exaustiva.

Deixou-se claro o que o Evangelho não contém, mas o que de fato ele contém? Isto será exposto de forma mais detalhada no tópico sobre o propósito, estrutura e ênfases teológicas do texto, podemos ainda levantar outras características do conteúdo aqui.

Características da Narrativa

Este Evangelho é conhecido por dar proeminência ao evangelho. Diferentemente dos outros Evangelhos, este enfatiza mais a mensagem do que o seu mensageiro, e isso pode ser averiguado a começar pelo seu título (1:1). Harrison coloca que “esta mensagem divina é digna do sacrifício da própria vida por parte do discípulo (8:35; 10:29). Deve ser proclamada a todas as nações (13:10; 14:9). Marcos é totalmente kerygmático em sua ênfase.”

Este Evangelho é conhecido como “o Evangelho da Ação”. O Evangelho de Marcos é marcado pela descrição de um ministério ativo, realizado por Cristo. Não encontramos o Senhor em nenhum lugar deste Evangelho descansando. A maior parte dos sermões de Jesus são omitidos, dando maior ênfase nas ininterruptas atividades do Senhor. Hendriksen observa que “cada um dos primeiros onze capítulos de Marcos contém o relato de pelo menos um milagre (1:21-28, 29-31, 32-34, 39, 40-45; 2:1-11; 3:1-6; 4:35-41; 5:1-20, 21-43; 6:30-44, 45-52, 53-56; 7:24-30, 31-37; 8:1-10, 22-26; 9:14-29; 10:46-52; e 11:12-14, 20-21)”.

Este Evangelho possui uma característica marcante por sua brevidade. Observemos que apesar de sua brevidade, ele contém certos detalhes que são omitidos pelos outros evangelistas, como por exemplo, 2:4; 4:37-38; 6:39; 7:33; 8:23-25; 14:54, e ainda contém uma parábola que não se encontra em nenhum outro lugar (4:26-29). E também encontramos em Marcos a narrativa de dois milagres que somente são mencionados aqui (7:31-37 e 8:22-26).

É um Evangelho rico em detalhes. De fato, ele é mais breve e sucinto que os outros Evangelhos, contudo, ele não se torna superficial por sua brevidade. Marcos nos fornece em seu relato não somente a ocorrência em si, mas também transmite minuciosidade em sua narrativa. Vejamos alguns exemplos. No deserto, ele afirma que Jesus “estava entre as feras” (1:13). Na pregação de João Batista, ele observa a ordem “creiam nas boas novas” (1:15). Ao curar a sogra de Pedro, Jesus não somente a tocou, mas também “a tomou pela mão” (1:31). Quanto a alguns hábitos do Senhor ele relata que, “de madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus levantou-se, saiu de casa e foi para um lugar deserto, e ali orava” (1:35, NVI). Estes são alguns dos detalhes que são relatados no primeiro capítulo, contudo, é possível encontrar maiores detalhes nos capítulos seguintes que são peculiares em Marcos, e que não encontramos nos demais Evangelhos.

Este Evangelho é conhecido por sua sinceridade. Marcos é extremamente franco em sua narrativa, ele não hesita em mencionar a falta de entendimento dos discípulos (4:13; 6:52; 8:17,21; 9:10,32), que a própria família de Jesus o considerava como tendo enlouquecido (3:21), ele ainda diz que Jesus não podia realizar milagres em Nazaré por causa da incredulidade do povo (6:5-6). Marcos é igualmente sincero em “sua descrição das reações humanas de Jesus. As emoções como compaixão, ira, dor, severidade, tristeza, afeto e amor são todos atribuídos a ele”.

Este Evangelho é conhecido como “o Evangelho aos gentios”. Percebe-se uma ausência de traços judeu-cristão que é tão comum no Evangelho de Mateus. Na história da mulher siro-fenícia, o Evangelho de Marcos não apresenta como em Mateus, Jesus respondendo: “eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 15:24, ARC). E Jesus em seu sermão escatológico em Mc 13, faz a seguinte observação no verso 10, “é necessário que antes o evangelho seja pregado a todas as nações”.

Propósito

Quanto ao propósito este não aparece tão claro no Evangelho, e os estudiosos não são unânimes quanto a ele. A seguir temos algumas sugestões de propósito que podem ser assumidas.

1. Propósito Apologético

Marcos escreveu para uma comunidade cristã de maioria gentílica, e talvez tenha sido o seu propósito demonstrar porque Jesus foi rejeitado pelo povo judeu. Então, podemos entender baseados nesta posição, porque o evangelho apresenta duas características mui distintas, tanto a popularidade, como a oposição a Cristo. A.B. Bruce observa que esse paradoxo pode ser encontrado a partir dos dois primeiros capítulos, e se estendem praticamente até o fim do Evangelho.

Isto tem levado autores como Robert H. Gundry a defender que o Evangelho de Marcos é uma apologia da cruz de Cristo, escrito com fins evangelísticos para pessoas que tinham receio de crer na vergonha da cruz, num mundo onde a fraqueza era desprezada, e o poder estimado.

Ainda, este Evangelho teria um propósito apologético para (1) mostrar porque Jesus como o Messias, era inocente diante das acusações dos judeus, e que o seu sofrimento era parte do propósito de Deus; (2) para expor por que Jesus, não declarou publicamente ser ele o Messias; (3) para apresentar as obras de Jesus como triunfantes sobre as forças demoníacas.

2. Propósito Pastoral

Se a datação mais aceita estiver correta este Evangelho foi escrito entre 65-67 d.C., durante a perseguição de Nero. O grande incêndio de Roma em 64 d.C., possivelmente provocado pelo próprio imperador Nero, mas que fora atribuído aos cristãos. Por este motivo os cristãos estavam sendo perseguidos, e muitos estavam sendo martirizados. Marcos então, teria escrito para fortalecer estes cristãos que se encontravam abatidos e confusos com o sofrimento, morte e perseguições.

3. Propósito Doutrinário

Esta posição sugere que o propósito deste Evangelho seria preparar material para o discipulado. A própria tradição indica este propósito conforme já foi citado Clemente de Alexandria em sua obra Hypotyposeis.

O ensino dos apóstolos transmitidos oralmente precisava ser registrado, e comunicado aos novos discípulos, para que a mensagem do evangelho não se desvirtuasse, e assim fosse mantido fielmente o ensino de Cristo. Conforme bem afirma Pohl que

uma igreja que negligencia a recordação do Jesus terreno, em breve também não terá mais o Cristo verdadeiro de hoje, que é o mesmo ontem e para sempre. Um espírito que não recorda o Cristo de ontem não é um Espírito Santo. Também nisto reside o verdadeiro impulso para a transmissão da tradição de Jesus entre os primeiros cristãos, e para sua conservação definitiva e quádrupla no Novo Testamento.

4. Esclarecer o segredo Messiânico

Uma posição que tornou-se comum entre os estudiosos de Marcos, é o conceito do “segredo Messiânico”. Segundo esta posição Marcos em seu Evangelho desenvolve gradativamente a exposição do conceito de Messias. O mistério da pessoa de Jesus que já deixava todos curiosos (1:22,27; 3:21,22,30; 4:41; 6:2,14s; 8:11). Os demônios o reconhecem, mas recebem a ordem de guardar silêncio (1:25,34; 3:12; 5:6-8). Milagres poderosos deixam transparecer quem ele é, mas os presentes recebem a ordem de guardar silêncio (1:44; 5:43; 7:36; 8:26). Muitos dos atos do Senhor os próprios discípulos não entendiam (6:52; 8:17s). Mas depois gradativamente Cristo aceita ser reconhecido como Senhor, Deus e redentor, primeiro, pelos discípulos (8:29; 9:7), depois pelos peregrinos (10:47-49), na entrada triunfal (11:9-10), diante do Sinédrio (14:61s), de Pilatos (15:2), e finalmente, perante todo o povo de Israel (15:9,12,26,32,39).

Alguns têm sugerido que é por causa deste segredo intencional do próprio Senhor, que a sua messianidade não foi descoberta no início de seu ministério, e que somente foi exposta abertamente após a sua morte e ressurreição.


5. Propósito Evangelístico

Segundo essa sugestão Marcos teria escrito este livro com o propósito evangelístico. Isto explicaria porque o livro não é uma biografia, pois ele escreve para pessoas que conheciam os fatos básicos sobre o ministério de Jesus.

A ênfase de todo o livro recai sobre a última semana de Cristo. Marcos apresenta o sofrimento, a vergonha da cruz, e sua morte; e da perspectiva da glória de Cristo, seu poder e sua vitória final. Podemos supor que “Marcos escreveu seu Evangelho para ser usado na tarefa missionária da Igreja, para prover material para os evangelistas e missionários da Igreja de Roma.”

Esta posição casaria muito bem com a característica literária do livro. Merril C. Tenney coloca que “as suas descrições breves, as suas frases agudas, as suas aplicações diretas da verdade, são exatamente aquilo que um pregador da rua usaria ao pregar Cristo a uma multidão promíscua.”

Podemos concluir que Marcos escreveu este Evangelho com um propósito evangelístico, embora isso não exclua necessariamente os outros propósitos como sendo secundários.

Estrutura do Livro

Antes de esboçar a estrutura do Evangelho de Marcos devemos perguntar qual foi o critério que ele utilizou para compor a estrutura do seu Evangelho. Quanto a forma como o assunto se encontra distribuído no Evangelho de Marcos os estudiosos tem sugerido as seguintes classificações.

1. Esboço Cronológico

Segundo esta proposta de estrutura do texto, Marcos teria arranjado seu material seguindo a ordem dos eventos históricos como de fato eles ocorreram.

2. Esboço Topológico

Marcos teria arrumado o seu material de acordo com os lugares que Jesus visitou, começando pela Galiléia e terminando em Jerusalém sem necessariamente seguir a seqüência histórica dos acontecimentos.

3. Esboço Tópico

Esta proposta sugere que Marcos teria organizado seu material por assuntos, dentro de um esquema cronológico mais amplo. A sua estrutura seguiria temas comuns.

4. Esboço Cristológico

Esta divisão pressupõe que o livro se propõe a revelar o “segredo Messiânico”. Aproveitando a seqüência geográfica ou cronológica, o autor teria desvendado este segredo gradativamente, segundo se encontra na disposição de assuntos que ele estabeleceu.

Nenhuma destas opções são totalmente satisfatórias para responder sobre a cronologia da vida de Jesus levantadas pela harmonia dos Evangelhos. O Dr. Nicodemus sugere que

Marcos retrata fielmente a seqüência histórica dos eventos, quando assim ele o indica (1:14; 1:21; 1:29; 9:2, etc.), e que um arranjo tópico ou topológico não significa necessariamente que ele editou e modificou os fatos, ou as palavras de Jesus.

A Estrutura

A divisão abaixo não segue rigidamente nenhum dos esboços que foram apresentados acima, e sim uma síntese deles.

I. O início do ministério de Jesus (1:1-13)

A. Seu precursor, 1:1-8

B. Seu Batismo, 1:9-11

C. Sua tentação, 1:12-13

II. O ministério de Jesus na Galiléia (1:14-6:29)

A. O ministério inicial na Galiléia, 1:14-3:12

B. O ministério posterior na Galiléia, 3:16-6:29

III. O ministério em outras localidades (6:30-9:32)

A. Nas praias orientais do Mar da Galiléia, 6:30-52

B. Nas praias ocidentais do Mar da Galiléia, 6:53-7:23

C. Na Fenícia, 7:24-30

D. Em Decápolis, 7:31-8:10

E. Nas regiões de Cesaréia de Felipe, 8:11-9:32

IV. O Ministério Final na Galiléia (9:33-50)

V. O Ministério na Judéia e Peréia (cap. 10)

A. Ensino sobre o divórcio, 10:1-12

B. Ensino sobre as crianças, 10:13-16

C. O jovem rico, 10:17-31

D. Jesus prediz sua morte, 10:32-34

E. O pedido dos dois irmãos, 10:35-45

F. A cura do cego Bartimeu, 10:46-52

VI. O ministério em Jerusalém (caps. 11-13)

A. A entrada triunfal, 11:1-11

B. A purificação do Templo, 11:12-19

C. Controvérsias finais com líderes judaicos 11:20-12:44

D. O sermão escatológico no Monte da Oliveiras, cap. 13

VII. A Paixão de Jesus (caps. 14-15)

A. Jesus é ungido, 14:1-11

B. A última Ceia, 14:12-25

C. Jesus prediz a negação de Pedro, 14:26-31

D. Jesus no Getsêmani, 14:32-42

E. A prisão, julgamento, e a morte de Jesus, 14:43-15:47

VIII. A Ressurreição de Jesus (cap. 16)

Local da Escrita

A tradição da Igreja antiga quanto a autoria e aos destinatários aponta inconteste para Roma. Somente uma voz tardia e isolada propõe que Marcos escreveu o seu Evangelho em Alexandria, no Egito.

1. A Comunidade Judaica em Roma

A dispersão dos judeus foi um acontecimento de grande importância para a preparação da vinda de Cristo, e para o progresso da Igreja Cristã. Quando ocorreu o Pentecostes os judeus já se encontravam espalhados por todo o império romano (At 2:5-11).

A informação mais antiga sobre a comunidade judaica na capital romana remonta ao ano 139 a.C.. Calcula-se que o número de judeus no início do século I aproximava-se de 40.000. Alguns anos mais tarde a capital romana chegou a ter mais judeus do que na cidade de Jerusalém. Muitos foram para lá como escravos de guerra; outros foram por motivos religiosos, ou seja, para alcançar novos prosélitos (Mt 23:15), mas muitos poderiam ter ido por causa do comércio.

Com a confiança de César conquistada por Herodes, o Grande, a influência judaica cresceu no império romano. Disto resultou alguns privilégios adquiridos pelos judeus como a livre guarda do sábado, eram isentos do serviço militar como legionários romanos, e desfrutavam de liberdade religiosa em suas reuniões sem a presença de soldados romanos, que eram gentios.

Com isso o movimento crescente do cristianismo tendo nascido em berço judeu, também desfrutou destes benefícios, pois para os de fora eles não passavam de uma facção judaica em crescimento.

2. A Igreja em Roma

Provavelmente a Igreja de Roma começou com romanos, ou judeus residentes na capital romana que se converteram no dia do Pentecostes. Em Atos há uma referência aos “visitantes vindos de Roma” (At 2:10).

Adolf Pohl aponta seis características da Igreja Cristã em Roma nos dias de Marcos. Primeiro, ela era uma das mais antigas e rica em tradições dentro do império romano. Tácito confirma o grande número de cristãos na capital império. Os cristãos tinham na capital de Roma adquirido uma posição de preeminência entre as demais igrejas do império. Na epístola aos romanos vemos Paulo num bom relacionamento com ela (Rm 1:8; 16:16). A maioria da igreja ali era gentílica. Em Roma vivia uma comunidade cristã cheia de mártires. Com o desaparecimento dos primeiros líderes daquela comunidade, surgiu Marcos para intervir e garantir à igreja a tradição de Jesus.

Destinatários

O Evangelho de Marcos foi escrito para a Igreja de Roma. Hurtado trata o assunto com certa superficialidade chegando a concluir sem maiores averiguações que “a única conclusão positiva que podemos tirar é que Marcos escreveu para cristãos gentios moradores fora da Palestina.” Contudo, discordo dele pois o livro apresenta algumas evidências que nos levam a pensar que Marcos escreveu seu Evangelho para os cristãos que moravam em Roma.

Em primeiro lugar, devemos observar que os cristãos romanos como destinatários são indicados pela mais primitiva tradição da Igreja.

Segundo, Marcos explica costumes e traduz palavras judaicas, o que seria totalmente desnecessário para uma audiência judaica.

Não podemos ignorar os latinismos. Contra esta evidência poderia ser argumentado que, pelo fato de Marcos viver num mundo dominado politicamente e culturalmente por Roma, esta influência dos latinismos seria algo muito comum. Mas devemos perguntar porque estes latinismos não são “tão comuns” nos outros evangelhos? Pohl falando da influência do idioma latino coloca que “é claro que latinismos não precisam estar apontando para a Itália, mas são possíveis em todo lugar aonde os romanos chegaram. Só que no evangelho de Marcos eles são especialmente numerosos e de traços característicos”.

Existe uma possível referência a um membro da Igreja de Roma. Simão Cireneu, é apresentado como pai de Alexandre e Rufo (Mc 15:21), e Rufo morava em Roma na época que Paulo escreveu aos romanos (Rm 16:13), ou seja 57-60 d.C., poucos anos antes de Marcos escrever (cerca de 65-67 d.C.). Quando Marcos escreve o seu Evangelho, escreve pressupondo que os seus leitores conhecessem Alexandre e Rufo.

Data da Escrita

O Evangelho segundo Marcos foi escrito em 65-67 d.C.. Algumas razões pelas quais essa data é preferível.

Primeiro, esta data é preferível, pois, Marcos possivelmente escreveu após a morte de Pedro, que ocorreu entre 64-65 d.C., durante a perseguição de Nero. É o que afirmam o prólogo Antimarcionita (180 d.C) e Irineu (Adv. Haer. 3:1.2).

Segundo, o Evangelho de Marcos foi provavelmente o primeiro Evangelho a ser escrito, e talvez usado por Mateus e Lucas, o que torna uma data após 70 d.C. muito improvável.

A destruição de Jerusalém ocorreu em 70 d.C., e não encontramos neste Evangelho nenhuma menção do cumprimento do sermão escatológico de Jesus, e da sua referência sobre a futura angústia que viria sobre Jerusalém.

Ênfases Teológicas

A Cristologia de Marcos é admirável, ele possuía um entendimento surpreendente acerca de quem Jesus era, fazendo observações, narrando detalhes, atos e reações do Senhor em momentos específicos de seu ministério.

Marcos apresenta Jesus como sendo verdadeiro homem. Na Cristologia de Marcos Jesus é perfeitamente humano. Ele precisava orar (1:35; 6:31), comer (2:16), beber (15:36), sentia fome (11:12), tocava nas pessoas (1:41), e era tocado por elas (5:57), ele se entristecia (3:5), e se indignava (10:14), sentia sono por causa do cansaço e era despertado após momentos de cansaço (4:38-39). Enquanto homem o seu conhecimento é limitado (13:32), de modo que se volta para ver quem lhe tocou (5:30), possuí corpo humano (15:43), um espírito humano (2:8), e inclusive poderia morrer (15:37).

Marcos apresenta Jesus como sendo verdadeiramente Deus. Na Cristologia de Marcos não há negação da sua divindade. Ele descreve Jesus como tendo domínio soberano sobre o reino da enfermidade (1:40-45; 8:22-26; 10:46,52;), dos demônios (1:32-34), e da morte (5:21-24,35-43), sobre os elementos da natureza (4:35-41; 6:48; 11:13-14,20); prediz o futuro (8:31; 9:9,21; 10:32-34; 14:17-21), conhece o coração das pessoas (2:8; 12:15), vencendo a morte (16:6). De acordo com Marcos as duas naturezas de Cristo, divino e humano, se encontram em perfeita harmonia na pessoa de Jesus. E isto pode ser percebido nas seguintes passagens (4:38-39; 6:34,41-43; 8:1-10; 14:32-41).

Marcos apresenta Jesus como o Filho de Deus. Esse título é usado para descrever a sua messianidade. Marcos inicia seu Evangelho identificando João Batista como o cumprimento da profecia de Ml 3:1 e Is 40:3, como aquele que viria e prepararia o caminho para o “Messias”. A voz que surge do céu dizendo “Tu és o meu Filho amado; em ti me agrado” (1:11 NVI). Jesus é aquele a quem os anjos servem (1:13). O seu sangue é oferecido em favor de muitos (10:45, cf. 14:24). Ele batiza com Espírito Santo (1:8), nomeia os seus próprios embaixadores (3:13-19), tem autoridade para mandar que os homens lhe sigam e o recebam (8:34; 9:37); na transfiguração manifesta parcialmente a glória futura (9:11); e declara que virá outra vez na glória de seu Pai (8:38), nas nuvens com grande poder e glória, quando enviará seus anjos para recolher seus eleitos (13:26-27). Precisamente foi condenado por ter confirmado a sua divina filiação (14:61-63).

Marcos apresenta Jesus como o Redentor. Jesus numa de suas declarações afirma que ele veio para “dar a sua vida em resgate por muitos”(10:45). Marcos descreve um Cristo que haveria de sofrer, e dedica uma grande porção de sua narrativa para expor a Paixão de Cristo, mais do que os outros Evangelhos.

Rev. Ewerton B. Tokashiki

tokashiki@ronnet.com.br

Pastor da Igreja Presbiteriana de Cerejeiras – RO

Prof. de Teologia Sistemática do STBC – Extensão Ji-Paraná

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